Descobertos em 1928, coleção de crânios alongados pode não ser de humanos e levanta a hipótese de uma possível raça extraterrena!
A notícia apareceu na web em fevereiro de 2014 e afirma que exames de DNA feitos em uma série de crânios alongados sugerem que o achado não é de origem humana. As caveiras, encontradas por um arqueólogo peruano – em 1928 – na Costa do Peru, possuíam uma característica peculiar: Todos elas tinham o topo do crânio alongado, em forma de cone!
De acordo com textos que circulam em diversos sites e blogs, exames feitos nas ossadas sugerem que elas pertenceriam a uma raça diferente da humana. Essa notícia fez com que se levantassem algumas hipóteses sobre a origem dos tais seres: Seriam eles alienígenas ou seriam a prova da existência dos gigantes de Nefilins citados na Bíblia?
Caveiras de Paracas seriam de Ets! Verdade ou farsa? (foto: Reprodução/Facebook)
Verdadeiro ou falso?
Bom, os crânios existem e estão expostos no Museu de História de Paracas. No entanto, não há nada de extraterreno neles!
A
deformação craniana artificial era uma prática bastante comum entre diversas culturas do mundo todo (e em períodos diferentes da história). Há muitas formas de se desenvolver pessoas com cabeças nesse formato. Em geral,
apertava-se a cabeça de um recém-nascido com tornos de madeira por alguns anos e pronto.
Abaixo, uma imagem com alguns dos métodos usados pelo povo Maia para criar crânios alongados:
Métodos para deformação craniana artificial usados pelos maias! (imagem: Reprodução/Wikipédia)
Atualização: 16/02/2014
A foto abaixo mostra como o povo Mangbetu (localizado na República Democrática do Congo) fazia esse tipo de modificação corporal em alguns membros da sua tribo:
Modificação de crânio feita em um membro do povo Mangbetu, na República Democrática do Congo (foto: Reprodução/Wikipédia)
Fim da atualização do dia 16/02/2014.
No entanto, ao contrário do que muitos sites e blogs estão afirmando, não há nenhum exame de DNA comprovando que as ossadas não são humanas! Apenas existem especulações e teorias, nada mais.
Telefone sem fio
Um exemplo de como um boato eletrônico pode ser prejudicial com a disseminação de informações erradas e desencontradas: Um
blog famoso em ufologia publicou essa matéria em português que, segundo eles mesmos,
foi traduzida do inglês de uma publicação do
Disclose.tv (um site sensacionalista que adora polemizar com assuntos “misteriosos”). O Disclose, para não ficar com a responsabilidade da afirmação toda só para si, afirmou no final do seu artigo que a fonte deles seria o
Ancient-Origins.
O referido blog
também não apresenta as provas dos supostos testes de DNA, mas se esforça e tenta ouvir “especialistas” no assunto, como
Brien Foerster (que não é geneticista). Note que
nessa entrevista concedida ao Ancient,
Foerster ainda não havia conseguido fazer os tais exames de DNA nos tais crânios.
(foto: Divulgação/Museu de Paracas)
E por falar em testes de DNA
Como muitos sites afirmaram que foram feitos exames em amostras desses crânios, resolvemos fazer uma busca mais refinada pela web. Afinal, se tanta gente está afirmando, pode ser que seja verdade…
Mas o fato é que alguns pedaços desses crânios (cabelo com raízes, ossos, pele e dentes) foram enviados para
Lloyd Pye, um sujeito curioso por assuntos ligados à paranormalidade que acreditava que a Terra foi povoada por alienígenas (que se misturaram com os humanos) e ficou famoso pelo estudo que fez no
Crânio Starchild (que depois de exames de DNA se revelou ser de uma criança que tinha anomalias congênitas). Ah! E só pra contar,
ele não era geneticista (Pye faleceu em dezembro de 2013)!
Lloyd Pye, na verdade, repassou essas amostras a um “pesquisador” famoso chamado Dr. Melba Ketchum. Para quem não conhece, Ketchum ganhou fama depois de publicar uma análise que ele alega ter feito provando a existência do Pé-Grande norte-americano. Nem é preciso dizer que nenhuma revista científica quis publicar o seu artigo, né?
O Dr. Melba não divulga, em momento algum, o nome do(s) especialista(s) que está(ã0) fazendo os tais testes nos crânios. Estranho…
Conforme muito bem explicado por
Martin Clemens em seu blog People Paranormal, a afirmação feita por Ketchum sobre o fato do DNA dos crânios possuírem mutações desconhecidas (se é que foram feitos testes)
não significa que o achado seja de origem extraterrena:“[...] Na melhor das hipóteses, [essa análise] é inconclusiva. O DNA seria identificado como humano, mas com anomalias; anomalias que poderiam ser causadas por uma série de contaminantes ou por falhas processuais. Pode ser que este DNA realmente fornecer resultados incomuns, mas a única coisa que se pode dizer de que neste momento é que ele requer um estudo mais aprofundado. O lançamento sensacional de informações não confirmadas e não verificável como este em um programa de rádio, não é digno de atenção esta história está recebendo.”, afirma o pesquisador Martin em seu blog.
Martin ainda relembra outro caso semelhante que ocorreu em 1913:
“Há crânios fossilizados de uma raça de proto-humanos chamado Man Boskop . Eles foram encontrados perto de uma pequena cidade na África do Sul com o mesmo nome, e esses crânios provocaram um acalorado debate entre os antropólogos e arqueólogos, quando eles foram apresentados em 1913. Eles foram dados como evidência para uma espécie de humano que tinha um cérebro significativamente maior e, portanto, uma maior inteligência do que as espécies contemporâneas. Os crânios Boskop ofereceram uma capacidade craniana de 40-50% maior do que qualquer outra espécie humanoide conhecida, mas foi demonstrado que isso não significa necessariamente maior inteligência. Mais nem sempre é mais.”
Conclusão
Não foi feito nenhum exame de DNA que sirva de base para comprovar que os crânios de Paracas sejam de origem extraterrena. O fato está servindo para que alguns “pesquisadores” ganhem mais dinheiro vendendo livros sensacionalistas com informações longe da realidade. De qualquer forma, o caso ainda está em aberto e a Ciência trará respostas mais precisas em breve. Por enquanto, nada de aliens! Que pena…
Fonte